domingo, junho 29, 2008

Aquecimento ou histeria global? (4)

Luiz Carlos Baldicero Molion
Instituto de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal de Alagoas
Cidade Universitária - 57.072-970 Maceió, Alagoas - BRASIL
email: molion@radar.ufal.br
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4. LIMITAÇÕES DOS MODELOS DE CLIMA GLOBAL

Sabe-se que a absorção de radiação por um gás segue uma lei logarítmica. Ou seja, pequenos incrementos na concentração do gás, quando essa é baixa, produzem aumentos de absorção bem maiores que grandes incrementos quando sua concentração é alta. Do início da era industrial até o presente, a concentração de CO2 já aumentou em cerca de 35 %. Entretanto, segundo o IPCC, a temperatura média global aumentou cerca de 0,7 °C, enquanto modelos de clima global (MCG) produziram aumentos de 0,5 a 2,7 °C para o mesmo aumento de concentração de CO2, ou seja, modelos tendem a superestimar as temperaturas.

Os mesmos MCG projetaram incrementos superiores a 10°C (por exemplo, GISS/NASA, 2007) na região do Ártico para concentração de CO2 dobrada, ou seja, cerca de 560 ppmv com relação à de 150 anos atrás. Porém, a análise das séries de dados de temperatura média do ar, registrados para o setor Atlântico do Ártico a partir de 1880, mostrou um incremento superior a 3 °C entre 1886 -1938, quando a Humanidade emitia menos de 10 % do carbono que emite hoje, seguido de um decréscimo superior a 2 ºC até o final da década de 1960. Atualmente, a temperatura média do Ártico está cerca de 1 °C abaixo da temperatura média do final da década de 1930. Na Antártica, as temperaturas têm diminuído nos últimos 50 anos.

Ou seja, exatamente nas regiões, onde os modelos previram os maiores incrementos de temperatura, foi observado o oposto desde o período pós-guerra, a partir do qual o consumo global de combustíveis fósseis se acelerou e a concentração de CO2 passou a subir monotonicamente.

Modelos de clima global são programas de computador que utilizam equações ou expressões matemáticas para representar os processos físicos diretos e os de realimentação e/ou interação (“feedback”) entre os diversos componentes do sistema terra-oceano-atmosfera com a finalidade de simular ou avaliar a resposta do sistema climático sob um forçamento radiativo (aumento ou diminuição do fluxo de energia). Os processos de feedback são definidos como mecanismos físicos que amplificam (feedback positivo) ou reduzem (feedback negativo) a magnitude da resposta do sistema climático para um dado forçamento radiativo.

Que existem sérios problemas com as simulações dos MCGs não é segredo para a comunidade meteorológica. Os MCGs comumente têm dificuldade em reproduzir as características principais do clima atual, tais como temperatura média global, diferença de temperatura entre equador e pólo, a intensidade e posicionamento das altas subtropicais e das correntes de jato, se não for feito o que, eufemisticamente, é chamado de "sintonia" ou “ajustes”. Nos modelos de previsão de tempo e de clima, a informação (dados e resultados), está representada em pontos, ou nós, de uma grade, ou malha, tridimensional colocada sobre a superfície do globo, resultante do cruzamento de linhas de latitude x longitude x altura.

A distância entre os pontos da grade determina a resolução espacial dos processos físicos que podem ser resolvidos pelo modelo. A resolução espacial horizontal dos modelos globais era de 250 km a 400 km até recentemente e todos os processos físicos, que se desenvolvem em escalas espaciais muito inferiores a essas, precisam ser resolvidos de uma forma particular, precisam ser “parametrizados” como, por exemplo, processos de formação, desenvolvimento, cobertura de nuvens e precipitação, que são fundamentais para o balanço radiativo do planeta. A parametrização é, em geral, feita com algoritmos físico-estatísticos que dependem da intuição física do modelador e, portanto, podem não representar a realidade física e serem questionáveis.

Nesse aspecto, um dos problemas cruciais são nuvens - seus tipos, formas, constituição e distribuição, tanto em altura como no plano horizontal, e propriedades ópticas - e aerossóis são processos físicos mal-simulados nos modelos. Em princípio, a temperatura global tende a aumentar principalmente com a presença de nuvens estratiformes (forma de “camadas horizontais”) na alta troposfera. Essas nuvens altas (tipo “cirro”) são mais tênues, constituídas por cristais de gelo em sua maior parte, e tendem a aquecer o planeta, pois permitem a passagem de ROC, mas absorvem fortemente ROL que escaparia para o espaço exterior, ou seja, nuvens cirros intensificam o efeito-estufa (feedback positivo).

Por outro lado, nuvens baixas (tipo “estrato”), mais espessas, tendem a esfriá-lo, pois aumentam o albedo planetário (feedback negativo). Por exemplo, o modelo do Serviço Meteorológico Inglês inicialmente previu um aumento superior a 5 ºC para o dobro de CO2. Porém, John Mitchell e colaboradores relataram em 1989 que, apenas mudando as propriedades ópticas das nuvens estratiformes, reduziram o aquecimento para menos de 2 ºC, ou seja, uma redução de 60 %! Em geral, os modelos têm tendência a produzir mais nuvens cirros nas regiões tropicais, resultantes de umidade transportada pelas correntes de ar ascendentes associadas a nuvens de tempestades (cumulonimbos) e amplificar o aquecimento para um dado forçamento radiativo, gerando um feedback positivo.

Entretanto, Spencer et al (2007), usando dados de satélites, mostraram que a cobertura de nuvens cirros diminui durante o pico da estação chuvosa em regiões tropicais e, como conseqüência, existe maior perda de ROL para o espaço exterior, resfriando o sistema oceano-atmosfera . Ou seja, um feedback negativo importante que, aparentemente, não foi incorporado nos MCGs! Em adição, na Figura SPM2 do Sumário do IPCC (indicado no Cap. 7 - Referências Bibliográficas), vê-se que a incerteza do efeito das nuvens no clima (forçamento radiativo negativo de -1,8 Wm-2), considerado de nível de entendimento baixo pelo IPCC, é igual, porém, de sinal contrário ao do CO2 (+1,66 Wm-2), dito ter nível de entendimento alto. Em linguagem mais simples, segundo o próprio IPCC, o aumento de aerossóis e da cobertura de nuvens baixas, por refletirem mais radiação solar de volta para o espaço exterior, pode cancelar o aumento do efeito-estufa pelo CO2!

Associado a esse, outro problema sério de modelagem é a simulação do ciclo hidrológico e seu papel como termostato do sistema climático. Na natureza, a superfície e o ar adjacente tendem a serem resfriados por evaporação da água da chuva e da umidade do solo, pois esse é um processo físico que consome grandes quantidades de calor.

Se não existisse convecção (formação de nuvens profundas, tipo cumulonimbo) e o resfriamento dependesse apenas da perda de ROL, o efeito-estufa, sensivelmente intenso nos níveis próximos ao solo, faria com que a temperatura de superfície alcançasse valores superiores a 70 ºC! As nuvens cumulonimbos - convecção profunda que os modelos não simulam adequadamente - bombeiam calor latente para fora da camada limite planetária – camada mais próxima da superfície terrestre com cerca de 1000 m de espessura - como se fossem verdadeiras chaminés, e o liberam nos níveis médios e altos da troposfera em que o efeito-estufa é fraco e, de lá, esse calor é irradiado para o espaço exterior. Dessa forma, a convecção profunda "curto-circuita" o efeito-estufa, não permitindo que a temperatura da superfície do planeta atinja valores elevados.

O transporte de calor sensível pelas correntes oceânicas para regiões fora dos trópicos também é mais um processo físico parametrizado, e mal resolvido, nos modelos. O calor transportado para o Ártico, por exemplo, aumenta as temperaturas da superfície do Mar da Noruega e, como o efeito-estufa é fraco nessas regiões, devido à baixa concentração de vapor d’água, a emissão de ROL para o espaço aumenta, e o sistema terra-atmosfera-oceano, como um todo, perde mais energia para o espaço exterior. Em 2006, utilizando dados de Reanálises (NCEP), Molion mostrou que, atualmente, a Escandinávia está perdendo 20 Wm-2 a mais, em média, do que perdia há 50 anos.

A discussão acima não esgota, de maneira alguma, os problemas de modelagem dos processos físicos e as possíveis fontes de erros dos MCGs atuais. Não há dúvida que o desenvolvimento de modelos seja crítico para se adquirir habilidade futura de entender melhor ou mesmo prever o clima, mas há que se admitir que modelos atuais sejam representação ainda simples, grosseira, da complexa interação entre os processos físicos diretos e os de feedback, que controlam o clima do globo.

Modelos carecem de validação de seus resultados! Portanto, as “previsões” feitas por eles, para os próximos 100 anos, podem estar superestimadas e a hipótese do efeito-estufa intensificado, aceita pela maioria segundo se afirma, pode não ter fundamento sólido, já que os resultados de modelos são um dos argumentos básicos utilizados em defesa do aquecimento global antropogênico!

(continua)

quinta-feira, junho 26, 2008

Aquecimento ou histeria global? (3)

Luiz Carlos Baldicero Molion
Instituto de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal de Alagoas
Cidade Universitária - 57.072-970 Maceió, Alagoas - BRASIL
email: molion@radar.ufal.br
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3. INTENSIFICAÇÃO DO EFEITO-ESTUFA

No Sumário para Formuladores de Políticas do IPCC, afirma-se que o gás carbônico é o principal gás antropogênico e que sua concentração de 379 ppmv, em 2005, foi a maior ocorrida nos últimos 650 mil anos, período em que ficou limitada entre 180 e 300 ppmv. O aumento de sua concentração nos últimos 150 anos foi atribuído às emissões por queima de combustíveis fósseis e mudanças do uso da terra. Para Monte Hieb e Harrison Hieb, entretanto, mais de 97 % das emissões de gás carbônico são naturais, provenientes dos oceanos, vegetação e solos, cabendo ao Homem menos de 3%, total que seria responsável por uma minúscula fração do efeito-estufa atual, algo em torno de 0,12 %.

Na realidade, o CO2 não é “antropogênico” e nem o vilão causador da intensificação do efeito-estufa. É um gás natural e, graças a ele, plantas fazem fotossíntese, produzindo açucares, amidos e fibras que mantêm vivos outros seres heterotróficos. Ou seja, o CO2 é um dos gases responsáveis pela vida na Terra! Em seu Relatório, o IPCC utilizou as concentrações medidas em Mauna Loa, Havaí, cuja série foi iniciada por Charles D. Keeling no Ano Geofísico Internacional (1957-58). Essa série foi estendida para os últimos 420 mil anos, utilizando-se as estimativas de concentração de CO2 obtidas das análises da composição química das bolhas de ar aprisionadas nos cilindros de gelo (“ice cores”), que foram retirados da capa de gelo na Estação de Vostok, Antártica, por perfuração profunda (até cerca de 3600 m).

A Figura CM3, extraída do artigo de Jean Robert Petit e colaboradores, publicado em 1999, mostra a evolução temporal da temperatura e da concentração de CO2, obtidas com os cilindros de gelo de Vostok, e foi extensivamente explorada no Documentário “Uma Verdade Inconveniente”, protagonizado por Al Gore. A curva superior é a concentração de CO2, que variou entre 180 e 300 ppmv (escala à esquerda), e, a inferior, é a dos desvios de temperatura do ar, entre – 8 e + 6 °C (escala à direita). Uma análise cuidadosa dessa Figura mostra, claramente, que a curva de temperatura apresentou 4 picos, superiores à linha de zero (tracejada), que representam os interglaciais passados – períodos mais quentes, com duração de 10 mil a 12 mil anos que separam as eras glaciais que, por sua vez, duram cerca de 100 mil anos cada uma – a cerca de 130 mil, 240 mil, 320 mil e 410 mil anos antes do presente.

Portanto, as temperaturas dos interglaciais passados parecem ter sido superiores às do presente interglacial, enquanto as concentrações de CO2 correspondentes foram inferiores a 300 ppmv. Lembrando que a concentração atual atingiu cerca de 380 ppmv, poder-se-ia concluir que as concentrações de CO2 parecem não terem sido responsáveis pelas temperaturas altas dos interglaciais passados. Entretanto, segundo o glaciologista Zbigniew Jaworowski, nunca foi demonstrado que a metodologia dos cilindros de gelo tenha produzido resultados confiáveis e que ela sempre tendeu a produzir concentrações de CO2 30 % a 50 % abaixo das reais por vários motivos.

Um deles é que a hipótese de que a composição química e isotópica original do ar na bolha aprisionada permaneça inalterada por milhares de anos não é verdadeira, pois ocorrem tanto reações químicas como difusão de ar nas bolhas por estarem submetidas a pressões que chegam a ser, nas camadas mais profundas, mais de 300 vezes superiores às da atmosfera. Some-se a isso o fato de o ar da bolha ser cerca de 1000 anos mais novo que o gelo que o aprisionou, conforme afirmaram Nicolas Caillon e colegas em 2003. Isso porque o aprisionamento da bolha de ar pelo gelo não é instantâneo, já que o processo de precipitação/derretimento da neve passa por vários ciclos (verões/invernos) e é necessário um acúmulo de 80 metros de altura para a coluna de neve, em sua base, sofrer uma pressão que a faça se transformar em “neve granulada” (em Inglês, “ firn ”), que aprisiona a bolha de ar finalmente.

Concentrações obtidas com os cilindros de gelo, portanto, não podem ser comparadas com as medidas atualmente feitas por instrumentos, já que, na melhor das hipóteses, as bolhas de ar nos cilindros de gelo teriam uma representação temporal de 1000 anos, ou seja, um dado representa um intervalo de 1000 anos. Dessa análise, conclui-se que, ou existiram outras causas físicas, que não a intensificação do efeito-estufa pelo CO2, que tenham sido responsáveis pelo aumento de temperatura verificado nesses interglaciais passados, ou as concentrações de CO2 das bolhas no gelo tendam, sistematicamente, a serem subestimadas e, de fato, não representam a realidade da época em que foram aprisionadas. Nesse aspecto, embora a técnica de análise das bolhas de ar nos cilindros de gelo tenha sido uma idéia brilhante, ela não produz resultados confiáveis e, portanto, parece ser um método experimental incorreto cientificamente para determinação de concentrações de gases de períodos passados com a precisão adequada.

Os dados de Vostok comprovam que a temperatura do ar aumentou antes do aumento da concentração de CO2, como sugeriram Nicolas Caillon e colegas em sua publicação datada de 2003. Mais um argumento nesse sentido está expresso na Figura CM4. Nela, vêem-se os desvios da temperatura média global, obtidos com satélites (MSU), e desvios da concentração de CO2 em Mauna Loa (em preto) de 1978 até o presente, padronizados pelos desvios-padrão respectivos. Vê-se, claramente, que curva de tendência da temperatura (em vermelho) apresenta uma tendência negativa nos últimos 10 anos, enquanto a do CO2 continua a aumentar.

Certamente, isso não aconteceria se o CO2 fosse o principal responsável pelo aumento de temperatura do ar. Em adição, ao usar apenas a série de Mauna Loa, o IPCC deixa a impressão que cientistas não teriam se preocupado em medir a concentração de CO2 antes de 1957. Entretanto, o biólogo alemão Ernst Beck (2007) catalogou um conjunto de mais de 90 mil medições diretas de CO2 de 43 localidades do Hemisfério Norte, obtidas entre 1812 e 2004, por vários pesquisadores renomados, três dos quais ganhadores de Premio Nobel. Esse conjunto de dados mostra que as concentrações de CO2 excederam a de 380 ppmv várias vezes antes de 1957, particularmente durante períodos quentes, como entre 1920 e 1946. Isso contraria o Sumário do IPCC que afirmou que a concentração de 379 ppmv, registrada em 2005, tenha sido a maior dos últimos 650 mil anos!

Não há comprovação que o CO2 armazenado na atmosfera seja originário de emissões antrópicas. Afirma-se que o CO2 atmosférico tenha aumentado na taxa anual de 0,4%, correspondendo a um incremento de 3 bilhões de toneladas de carbono por ano (GtC/ano) armazenadas na atmosfera. De acordo com o Sumário do IPCC, as emissões por queima de combustíveis fósseis e florestas tropicais totalizariam 7 GtC/ano. Estima-se que os oceanos, por sua vez, absorvam 2GtC anuais. Portanto, o balanço (3 + 2 = 5 < 7) não fecha, e ainda faltaria encontrar o sumidouro das 2 GtC/ano restantes, fluxo esse que foi denominado “o carbono desaparecido” na literatura. A vegetação - florestas nativas, como a Amazônia, e plantadas - possivelmente seria a seqüestradora desse carbono (Molion, 1988).

Por outro lado, sabe-se que a solubilidade do CO2 nos oceanos varia inversamente a sua temperatura. Ou seja, oceanos aquecidos absorvem menos CO2 que oceanos frios. Como a temperatura dos oceanos aumentou ao longo do Século XX, é possível que a concentração de CO2 atmosférico tenha aumentado devido à redução de absorção ou ao aumento de emissão pelos oceanos. A literatura cita que o fluxo para dentro dos oceanos foi estimado em 92 GtC/ano. Um erro de 10 % nessa estimativa corresponderia a uma fração três vezes maior que a que fica armazenada na atmosfera anualmente. Outro argumento, que se utiliza para comprovar que o aumento da concentração de CO2 é antropogênico, é a redução da razão 14C/12C. O carbono 14 é radiativo e apresenta uma meia-vida de 5730 anos.

Não há mais 14C nos combustíveis fósseis, uma vez que esses foram produzidos há milhões de anos. Assim, sua queima liberaria mais 12C e, por esse motivo, a razão teria decrescido em 2% nos últimos 150 anos. Ocorre que o 14C é formado pela incidência de raios cósmicos galácticos (RCG) - partículas de alta energia provenientes do espaço sideral, cuja contagem é mais elevada durante períodos de baixa atividade solar - na atmosfera e, portanto, quando o Sol está mais ativo, como na primeira metade do Século XX, a entrada de raios cósmicos é reduzida, formando menos 14C. Essa deve ter sido a possível causa da redução de 2% da razão 14C/12C, se for admitido que ela possa ser medida com tal precisão atualmente.

Em outras palavras, os argumentos acima não comprovam que o aumento da concentração do carbono atmosférico seja causado pelas atividades humanas, como queima de combustíveis fósseis, agropecuária e construção de grandes lagos de hidrelétricas.

(continua)
Posted by PicasaFigura CM4. Desvios padronizados de temperatura, com curva de tendência (vermelha) e de concentração de CO2 em Mauna Loa (preta) nos últimos cerca de 30 anos. (Fonte dos dados: CDIAC/NOAA e GHCC/UAH).
Posted by PicasaFigura CM3. Variação da concentração de CO2 e dos desvios de temperatura (curva inferior) dos últimos 420 mil anos, obtidas dos cilindros de gelo da Estação de Vostok, Antártica. (Petit et al., 1999).

domingo, junho 22, 2008

Aquecimento ou histeria global? (2)

Luiz Carlos Baldicero Molion
Instituto de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal de Alagoas
Cidade Universitária - 57.072-970 Maceió, Alagoas - BRASIL
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2. AUMENTO DA TEMPERATURA GLOBAL

Na Figura CM1, mostrou-se que desvios de temperatura do ar para o globo terrestre, com relação à média do período 1961-1990, aumentaram cerca de 0,7 °C desde o ano de 1850. Vê-se que, até aproximadamente 1920, houve apenas variabilidade interanual em princípio, não tendo ocorrido aumento expressivo de temperatura nesse período extenso, embora haja relatos de ondas de calor como, por exemplo, a de 1896 nos Estados Unidos, que deixou mais de 3 mil mortos somente em Nova Iorque. Porém, entre 1920 e 1946, o aumento global foi cerca de 0,4 °C. No Ártico, em particular, em que há medições desde os anos 1880, o aumento foi cerca de 10 vezes maior nesse período.

Na seqüência, entre 1947 e 1976, houve um resfriamento global de cerca de 0,2 °C (reta inclinada), não explicado pelo IPCC e, a partir de 1977, a temperatura média global aumentou cerca de 0,4 °C . O próprio IPCC concorda que o primeiro período de aquecimento, entre 1920 e 1946, pode ter tido causas naturais, possivelmente o aumento da produção de energia solar e a redução de albedo planetário, discutidas mais abaixo. Antes do término da Segunda Guerra Mundial, as emissões decorrentes das ações antrópicas eram cerca de 6 % das atuais e, portanto, torna-se difícil argumentar que os aumentos de temperatura, naquela época, tenham sido causados pela intensificação do efeito-estufa pelas emissões antrópicas de carbono.

A polêmica que essa série de anomalias tem causado reside no fato de o segundo aquecimento, a partir de 1977, não ter sido verificado, aparentemente, em todas as partes do globo. A série de temperatura média para os Estados Unidos, por exemplo, não mostrou esse segundo aquecimento, sendo a década dos anos 1930 mais quente que a dos anos 1990. Na Figura CM2, mostraram-se os desvios da temperatura média global, obtida com dados dos instrumentos MSU (Microwave Scanning Unit) a bordo de satélites a partir de 1979. Note-se o pico de temperatura em 1998, cerca de 0,8 °C, associado ao evento El Niño considerado o mais forte do século passado, e que, desde 1998, as anomalias de temperaturas tem sido inferiores.

É sabido que eventos El Niños tendem aquecer o planeta. Segundo John Christy e Roy Spencer, da Universidade do Alabama, em Hunstsville (UAH), os dados do MSU indicaram um pequeno aquecimento global de 0,076 °C por década, enquanto os termômetros de superfície mostraram um aquecimento de 0,16 °C por década, ou seja, duas vezes maior no mesmo período. Para o Hemisfério Sul, satélites mostraram um aquecimento menor, de 0,052 °C por década. Em princípio, satélites são mais apropriados para medir temperatura global, pois fazem médias sobre grandes áreas, incluídos os oceanos, enquanto as estações climatométricas de superfície registram variações de seu micro ambiente, representando as condições atmosféricas num raio de cerca de 150 metros em seu entorno.

As estações climatométricas apresentam outro grande problema, além da não-padronização e mudança de instrumentação ao longo dos 150 anos passados. As séries mais longas disponíveis são de estações localizadas em cidades do “Velho Mundo” que se desenvolveram muito, particularmente depois da Segunda Guerra Mundial. Em média, a energia disponível do Sol (calor) é utilizada para evapotranspiração (evaporação dos solos e superfícies de água + transpiração das plantas) e para o aquecimento do ar durante o dia. Sobre superfícies vegetadas, a maior parte do calor é usada para a evapotranspiração, que resfria a superfície, e o restante para aquecer o ar.

Com a mudança da cobertura superficial, de campos com vegetação para asfalto e concreto, a evapotranspiração é reduzida e sobra mais calor para aquecer o ar próximo da superfície, aumentando sua temperatura. Adicione-se, ainda, o calor liberado pelos veículos e pelos edifícios aquecidos, particularmente em regiões fora dos trópicos no inverno. Esse é o chamado efeito de ilha de calor, que faz as temperaturas do ar serem, em média, 3 °C a 5 °C maiores nos grandes centros urbanos quando comparadas às de suas redondezas. Analisando os dados de Beijing e Wuhan, China, Ren et al (2007) [as referências bibliográficas são apresentadas no final, Capítulo 7], por exemplo, encontraram aumentos anuais e sazonais nas temperaturas urbanas entre 65-80 % e 40-61 %, respectivamente, com relação às estações rurais de suas vizinhanças.

Na Figura CM1, os dados foram “ajustados” para compensar o efeito da urbanização nas séries de temperatura, porém utilizaram métodos, ou algoritmos matemáticos, de correção que não necessariamente sejam apropriados ou representem a realidade, já que esse procedimento é subjetivo e, portanto, questionável. Em outras palavras, é impossível retirar o efeito de ilha de calor das séries de temperaturas urbanas. Uma das possibilidades, pois, é que o aquecimento a partir de 1977, que aparece nitidamente na Figura CM1, seja, em parte, resultante da urbanização em torno das estações climatométricas, ou seja, uma contribuição local, e não global, ao aquecimento.

Outro aspecto a ser considerado é o número de estações climatométricas. No início da série representada na Figura CM1, o número de estações era cerca de 200, praticamente todas no Hemisfério Norte. Na década de 1960, esse número superou a marca de 14 mil e, recentemente, menos de 2 mil estações são utilizadas para elaborar a “média global” da temperatura. A maior parte das estações desativadas estavam em regiões de difícil acesso, como zonas rurais e em regiões frias, como a Sibéria, por exemplo, que não estão sujeitas ao efeito de ilha de calor. Finalmente, um aspecto muito importante é que as séries de 150 anos são curtas para capturar a variabilidade de prazo mais longo do clima.

O período do final do Século XIX até as primeiras duas décadas do Século XX foi o final da “Pequena Era Glacial”, um período frio, bem documentado, que perdurou por cinco séculos. E esse período coincide com a época em que os termômetros começaram a ser instalados mundialmente. Portanto, o início das séries instrumentais de 150 anos, utilizada no Relatório do IPCC, ocorreu num período relativamente mais frio que o atual e leva, aparentemente, à conclusão errônea que as temperaturas atuais sejam muito altas ou “anormais” para o planeta.

Concluiu-se que existem problemas de representatividade, tanto espacial como temporal, das séries de temperatura observadas na superfície da Terra, o que torna extremamente difícil seu tratamento e sua amalgamação em uma única série. E que estações climatométricas de superfície, portanto, são inadequadas para determinar a temperatura média global da atmosfera terrestre, se é que se pode falar, cientificamente, numa “temperatura média global”.

(continua)

Figura CM2 - Desvios de temperatura obtidos por satélites (MSU). A linha suavizada é a média móvel de 11 meses. (Fonte dos dados:GHCC/UAH, 2008).
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Fig. CM1 - Desvios da temperatura média global com relação à média do período 1961-90. A curva preta é a média móvel de 5 anos e a reta tracejada (inclinada) é a linha de tendência dos desvios na fase fria da ODP, período 1947-1976 (Fonte de dados: CRU/UEA, 2007).
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quarta-feira, junho 18, 2008

Aquecimento ou histeria global? (1)

Luiz Carlos Baldicero Molion
Instituto de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal de Alagoas
Cidade Universitária - 57.072-970 Maceió, Alagoas - BRASIL
email: molion@radar.ufal.br
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1. INTRODUÇÃO

Existem evidências que o clima, entre cerca de 800 a 1200 DC, era mais quente do que o de hoje. Naquela época, os Nórdicos (Vikings) colonizaram as regiões do Norte do Canadá e uma ilha que foi chamada de Groelândia (Terra Verde) e que hoje é coberta de gelo (!?). Entre 1350 e 1850, o clima se resfriou, chegando a temperaturas de até cerca de 2 °C inferiores às de hoje, particularmente na Europa Ocidental. Esse período foi descrito na Literatura como “Pequena Era Glacial”. Após 1850, o clima começou a se aquecer lentamente e as temperaturas se elevaram. Portanto, não há dúvidas que ocorreu um aquecimento global nos últimos 150 anos. A questão que se coloca é se o aquecimento observado é natural ou antropogênico?

A fonte primária de energia para o Planeta Terra é o Sol, que emite radiação eletromagnética (energia), denominada radiação de ondas curtas (ROC). O albedo planetário - percentual de ROC incidente no Planeta que é refletida de volta para o espaço exterior, atualmente cerca de 30 % – é resultante da variação da cobertura e do tipo de nuvens, da concentração de aerossóis e partículas em suspensão no ar, e das características da cobertura superfície tais como gelo/neve (90 % de reflexão), florestas (12 %) e oceanos/lagos (10 %). Portanto, o albedo planetário controla o fluxo de ROC que entra no sistema terra-atmosfera-oceanos: menor albedo, maior entrada de ROC e concomitante aquecimento do sistema terra-atmosfera, e vice-versa.

O restante do fluxo de ROC passa através da atmosfera terrestre e boa parte dele é absorvida pela superfície, que se aquece e emite radiação numa faixa espectral denominada radiação de ondas longas (ROL). O fluxo de ROL, emitida pela superfície, é absorvido por gases, pequenos constituintes, como o vapor d'água (H2O), o gás carbônico (CO2), o metano (CH4), o ozônio (O3), o óxido nitroso (N2O) e compostos de clorofluorcarbono (CFC), vulgarmente conhecidos por freons. Esses, por sua vez, emitem ROL em todas as direções, inclusive em direção à superfície e ao espaço exterior. A absorção/emissão desses gases pelas várias camadas atmosféricas reduz a perda de ROL, emitida pela superfície, que escaparia para o espaço exterior, e constitui o chamado efeito-estufa.

O vapor d'água é o gás principal de efeito-estufa (GEE) e sua concentração é extremamente variável no espaço e tempo. Por exemplo, sobre a Floresta Amazônica existe 5 vezes mais vapor d’água que sobre o Deserto do Saara e sobre a Amazônia, ainda, sua concentração varia de 30 % entre a estação seca e a chuvosa. Em regiões polares, e em regiões tropicais a uma altura acima de 4 km, existe muito pouco vapor d’água e o efeito-estufa é fraco. O gás carbonico (CO2) é o segundo GEE em importância, com concentração até 100 vezes inferior à do vapor d'água.

É o gás que tem causado grande polêmica, pois sua concentração, embora baixa, aumentou de 315 ppmv (1ppmv = 1 parte por milhão por volume, ou seja, 1 mililitro de gás por metro cúbico de ar) em 1958 para 379 ppmv em 2005, crescendo à taxa média de 0,4 % ao ano. Esse crescimento está sendo atribuído às emissões decorrentes das atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis e florestas tropicais. O metano (CH4), com concentrações muito pequenas, na ordem de 1,7 ppmv, também vinha mostrando um significativo aumento de 1,0 % ao ano, atribuído às atividades agropecuárias.

Mas, a partir de 1998, a taxa de crescimento anual de sua concentração passou a diminuir, ou se estabilizou, inexplicavelmente, embora as fontes antrópicas continuem aumentando. Os gases restantes apresentam concentrações ainda menores que as citadas, porém parecem estar aumentando também. O efeito-estufa faz com que a temperatura média global do ar, próximo à superfície da Terra, seja cerca de 15 °C. Caso ele não existisse, a temperatura da superfície seria 18 °C abaixo de zero, ou seja, o efeito-estufa é responsável por um aumento de 33 °C na temperatura da superfície do planeta! Logo, ele é benéfico para o planeta, pois gera condições que permitem a existência da vida como se a conhece.

Em resumo, a estabilidade do clima da Terra resulta do balanço entre o fluxo de ROC absorvido pelo planeta e o fluxo de ROL emitido para o espaço (ROC = ROL). O aquecimento do clima global ocorreria, por exemplo, ou pela redução de albedo planetário, que aumentaria ROC absorvida, ou pela intensificação do efeito-estufa, que reduziria a perda de ROL para o espaço exterior. A hipótese do efeito-estufa intensificado é, portanto, fisicamente simples: mantidos a produção de energia solar e o albedo planetário constantes (?), quanto maior forem as concentrações dos GEE, menor seria a fração de radiação de ondas longas, emitida pela superfície, que escaparia para o espaço (redução do fluxo de ROL) e, conseqüentemente, mais alta a temperatura do planeta.

É dito que a concentração de CO2 passou de 280 ppmv, na era pré-industrial para os atuais 380 ppmv, um aparente aumento de 35% da concentração desse gás nos últimos 150 anos. Utilizando tais concentrações nas simulações feitas por modelos de clima global (MCG), o incremento na temperatura média global resultante já seria de 0,5 °C e 2,7 °C, conforme o modelo utilizado. Entretanto, de acordo com o Sumário para Formuladores de Políticas, extraído do Relatório da Quarta Avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (SPM/AR4/IPCC, 2007), o aumento “observado” está entre 0,4 e 0,7 ºC. Ou seja, o aumento observado está situado no limite inferior dos resultados produzidos pelos atuais MCG utilizados para testar a hipótese da intensificação do efeito-estufa, evidenciando que esses tendam a superestimar a temperatura.

Porém, se a concentração de CO2 dobrar nos próximo 100 anos, de acordo com os mesmos MCG, poderá haver um aumento da temperatura média global entre 2 °C e 4,5 ºC, não inferior a 1,5 °C, conforme afirmado no SPM/AR4/IPCC. Os efeitos desse aumento de temperatura seriam catastróficos! Segundo a mesma fonte, uma das conseqüências seria a expansão volumétrica da água dos oceanos que, associada ao degelo parcial das geleiras e calotas polares, notadamente o Antártico, aumentaria os níveis dos mares entre vinte e sessenta centímetros.

Esse fato, dentre outros impactos sociais, forçaria a relocação dos 60 % da Humanidade que vivem em regiões costeiras. Aumento na freqüência de tempestades severas e na intensidade de furacões seria outra conseqüência. Em seguida, foram discutidos o estado atual do conhecimento sobre o assunto e algumas das limitações dos modelos de simulação do clima.

(continua)

terça-feira, junho 17, 2008

Aquecimento ou histeria global? (0)

Luiz Carlos Baldicero Molion
Instituto de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal de Alagoas
Cidade Universitária - 57.072-970 Maceió, Alagoas - BRASIL
email: molion@radar.ufal.br
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RESUMO

Segundo o IPCC, é muito provável que o incremento da temperatura média global seja devido ao aumento dos gases de efeito-estufa pelas atividades humanas, que supostamente elevaram a concentração de CO2 a 379 ppmv em 2005, ultrapassando seu limite natural, que seria de 300 ppmv. E, ainda, é muito provável que o aumento médio de temperatura, para a concentração de CO2 dobrada, estaria entre 2 ºC e 4,5 °C e que uma das conseqüências seria o aumento do nível do mar de até 0,6 metros.

Neste artigo, discutiu-se criticamente a hipótese do aquecimento global antropogênico, demonstrando que ela carece de bases científicas sólidas, e que as projeções catastróficas elaboradas pelo IPCC foram baseadas em resultados de modelos de clima global (MCG), cujas equações matemáticas não representam adequadamente os processos físicos que ocorrem na atmosfera, particularmente a cobertura de nuvens e o ciclo hidrológico.

Ou seja, as projeções futuras dos MCG, resultantes de cenários hipotéticos, são meros exercícios acadêmicos, não confiáveis e, portanto, não utilizáveis para o planejamento das atividades humanas e o bem-estar social. Argumenta-se que a influência humana no clima global, se existir, seja muito pequena e impossível de ser detectada em face da grande variabilidade natural do clima. Considerando o passado recente, é muito provável que ocorra um resfriamento global nos próximos 20 anos ao invés de um aquecimento.

Palavras chave: variabilidade climática. ODP. modelos climáticos

ABSTRACT

According to the IPCC, it is very likely that the increase of the global average temperature was due to the increase of greenhouse gases by human activities, which supposedly raised CO2 concentration to 379 ppmv in 2005, making it exceed its natural limit of 300 ppmv. Furthermore, that it is very likely that the global average temperature may increase 2 ºC to 4.5°C when CO2 concentration doubles, one of the consequences being the rise of the present sea level up to 0.6 meters.

The hypothesis of anthropogenic global warming was discussed here, arguing that it does not have a solid scientific basis and that the IPCC catastrophic projections have been established mainly upon results of climate computer models (GCM), whose mathematical formulation does not represent the atmospheric physical processes, particularly cloud cover and the hydrological cycle, adequately.

The GCM projections into the future, based on hypothetical scenarios, are mere academic exercises and, thus, their results are unreliable and worthless as far as human welfare and planning are concerned. It is argued that man’s influence on global climate, if it exists, is very small, undistinguishable of its large natural variability, therefore, undetectable with the existent methods. Considering the recent past climate, it is very likely that rather a gradual global cooling will take place in the next 20 years.

Key words: climate variability. PDO. climate models

(continua)

segunda-feira, junho 16, 2008

Artigo de Carlos Molion

O Prof. Luiz Carlos Baldicero Molion, do Instituto de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal de Alagoas, Brasil, escreveu um excelente artigo que MC vai publicar com muito agrado.

O nome do cientista brasileiro já foi referido várias vezes no MC. A última foi na entrevista que o Prof. Molion concedeu à revista brasileira ISTOÉ. Anteriormente tinha sido citado na entrevista do Prof. João Corte Real.

Este artigo tem dimensão e densidade de informação que desaconselha a publicação de uma só vez. Daí que vai ser repartido de acordo com os capítulos que o Prof. Carlos Molion considerou necessários para o desenvolvimento da sua tese.

Cada um dos seis capítulos constitui uma lição de climatologia. A eles acrescentam-se o resumo e as referências bibliográficas para os leitores poderem aprofundar o estudo destas matérias de interesse generalizado.

O artigo tem um expressivo nome: Aquecimento ou histeria global?

quinta-feira, junho 12, 2008

A Nature, o IPCC e as fraudes científicas

O blog “EcoTretas”, cujo link se encontra afixado aqui ao lado, publicou ontem um interessante e oportuno post, intitulado Impostura Científica no peer-review , que vale a pena desenvolver um pouco mais.

O matemático inglês Douglas J. Keenan tem uma vasta experiência na crítica de artigos que têm sido publicados, aparentemente após revisão pelos pares, na revista Nature e depois utilizados pelo IPCC nos seus relatórios de avaliação.

O artigo “Historical phenology: Grape ripening as a past climate indicator”, publicado na Nature, mereceu-lhe uma análise aprofundada que veio ilustrar, a par e passo, um processo perturbador, em que se verificou uma efectiva falha da revisão pelos pares.

Aos leitores menos familiarizados com o termo, esclarece-se que Phenology, ou, em português Fenologia, é o estudo dos fenómenos biológicos recorrentes, ou sazonais, tais como o despontar de folhas e flores, o aparecimento de aves migratórias, a queda das folhas, etc., e a relação destes acontecimentos com os factores climáticos.

Pois, em 18 de Novembro de 2004, Isabelle Chuine e colegas – todos pertencentes a organismos franceses com ligações ao Centre National de la Recherche Scientific – publicaram o artigo acima indicado, relacionando-o com o «global warming».

Foi publicado na Nature, uma revista científica mundialmente conhecida. Além disso, a edição foi acompanhada de publicidade, como chamariz de mais uma hipotética prova da responsabilidade do Homem na evolução recente do clima.

Isabelle Chuine et al. afirmaram ter desenvolvido uma metodologia de avaliação das temperaturas de Verão, na Borgonha, França, para qualquer ano anterior até 1370 (com base nas datas da colheita de uvas da casta Pinot Noir).

Deste modo, com base num método peculiar, concluíram que o Verão mais quente na Borgonha, desde 1370, teria sido, de longe, o ano de 2003.

Douglas Keenan, que segue os estudos sobre o «global warming» de um modo crítico, recebeu este artigo através de um colega que lhe pediu uma opinião sobre a metodologia seguida pelos autores, a qual lhe parecia estranha.

Douglas leu o artigo e ficou cheio de dúvidas. Para o estudar mais profundamente, pediu a Isabelle Chuine e seus colegas o envio da base de dados e do algoritmo em que foram suportadas as conclusões do estudo publicado na Nature.

Os autores do artigo mostraram-se relutantes na abertura pretendida. A troca de mensagens demorou mais de oito meses. Douglas Keenan acabou por apresentar duas queixas formais à Nature. Mas nem assim obteve os elementos desejados. Teve de adquirir alguns dados através da Météo France, o instituto de meteorologia francês.

Depois de um grande esforço de análise, com os elementos da Météo France, tornou-se-lhe manifesto que existiam graves problemas metodológicos no trabalho de Isabelle Chuine et al. Keenan concluiu que os autores do artigo desenvolveram um método que dava uma falsa estimativa das temperaturas, em particular a de 2003.

Ou seja, uma metodologia errónea atribuía uma temperatura elevada ao ano de 2003 e temperaturas baixas anteriormente a este ano. Daí que proclamassem que 2003 teria sido o ano que apresentava o Verão mais quente desde 1370.

Esta conclusão errada dos autores do artigo era fácil de perceber sem haver necessidade de uma especialização científica em climatologia. Então, Keenan teve a seguinte dúvida: - Como é que os revisores da Nature (os ilustres peer-reviewers que dão a permissão para publicação) deixaram passar tamanha fraude?

Douglas Keenan perguntou à principal autora Isabelle Chuine quais tinham sido os elementos que eles tinham apresentado à Nature para apoiar a publicação do artigo. Douglas ficou atónito com a resposta recebida de Isabell: - “Nós nunca enviámos qualquer base de dados à Nature”!

O que torna este processo muito grave nem é sequer a veracidade ou a falsidade das afirmações de Isabelle Chuine et al. sobre as temperaturas de Verão na Borgonha. A gravidade deste caso reside no facto de um documento sobre um tema da maior importância da actualidade do mundo científico, o «global warming», motivo das mais sérias controvérsias, disputas e opiniões extremadas, ter sido tornado público naquela revista científica sem uma verificação adequada dos revisores antes da publicação.

Por outro lado, Douglas Keenan conseguiu mesmo elementos de prova prima facie da fraude científica. Chuine et al. tinham conhecimento de que as suas conclusões eram infundadas. O IPCC, claro, aproveitou este excelente maná para aduzir mais uma hipotética prova da culpabilidade do Homem no «global warming».

A partir desta experiência, Douglas Keenan passou a considerar ainda mais dúbias as publicações sobre o «global warming». Escreveu o artigo “The fraud allegation against some climatic research of Wei-Chyung Wang”, em que analisou uma outra fraude.

Wang Wei Chyung foi um investigador que, durante décadas, realizou vários estudos sobre aquecimento global. Mas Douglas provou que ele cometeu fraudes em algumas das suas investigações, incluindo a que foi citada no recente Quarto Relatório de Avaliação do IPCC (2007) sobre "ilhas de calor urbano" (que é uma questão crítica do «global warming»).

No dia 20 de Fevereiro de 2008, a Universidade de Albany, Nova Iorque, escreveu ao Dr. Keenan confirmando que estava a investigar a sua exposição sobre as fraudes de Wang Wei Chyung que trabalha naquela universidade.

Neste artigo, Douglas J. Keenan levanta grandes dúvidas sobre trabalhos publicados pelo IPCC no seu Quarto Relatório de Avaliação, de 2007. As críticas mais importantes foram dirigidas a Phil Jones, o mentor das temperaturas obtidas pelos termómetros e aceites como boas pelo IPCC que as publica sem qualquer cautela.

Escultura de gelo


Os investigadores do Beaufort Gyre Exploration Project fotografaram, em 2004, uma escultura formada por gelo do Árctico com dois ursos, a mãe e o filhote, encarrapitados. Os cientistas atribuíram a criação desta escultura à circulação polar.

Mas logo, os propagandistas que deturpam os factos e espalham boatos preocupantes, de alarme, com o ficcionista Al Gore à frente, passaram a utilizar esta fotografia como um ícone do seu imaginário “aquecimento global” a derreter o Árctico.

Está ainda por explicar como é que o CO2 antropogénico conseguiria esculpir tão belo molde de gelo. A dinâmica do Árctico, como espaço aerológico não isolado, “varre” qualquer gás com efeito de estufa, seja natural ou antropogénico.

Os cientistas deste projecto de investigação da zona boreal ficaram estupefactos, como é natural em pessoas íntegras, com a utilização indevida da sua fotografia. Mas proveniente de Al Gore e dos seus admiradores já nada surpreende.

A fotografia encontra-se no 2º Relatório, de Agosto de 2004, deste projecto de investigação, assinado por Kis Newhall.
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segunda-feira, junho 09, 2008

Filipe Duarte Santos, o comediante “científico”

No que diz respeito ao tema das “alterações climáticas” e “aquecimento global” – ou «global warming» em língua inglesa - , a RTP tem uma posição indigna de um órgão de comunicação social do Estado, pago pelos contribuintes.

Com efeito, numa questão que tem levantado tanta controvérsia, não apenas em Portugal, mas em todo o mundo, com duas correntes de opinião antagónicas, a RTP limita-se a divulgar as posições de uma das partes.

A última incursão neste domínio verificou-se no programa da RTP2, “Câmara Clara”, um magazine cultural, semanal, orientado por Paula Moura Pinheiro (PMP), no passado Domingo, 8 de Junho de 2008, pelas 22:30, quando a RTP2 apresentou um programa com a participação de um dos mais conhecidos alarmistas do «global warming», Filipe Duarte Santos (FDS), sentado com PMP numa mesa pejada de livros sobre o assunto.

Curiosamente, ou talvez não, nesse conjunto de livros não se encontrava nenhum exemplar do livro «A Ficção Científica de Al Gore», da autoria de Marlo Lewis Jr., edição em língua portuguesa da editora Booknomics (Lisboa, 2008, 258 pp., ISBN 978-989-8020-22-2), já há cerca de um mês nas maiores livrarias nacionais. Porque seria? A RTP desconhecerá este livro? Não acreditamos.

As intrujices – não têm outro nome – propaladas durante o programa foram acompanhadas pelas tradicionais montagens cinematográficas de imagens fabricadas com plástico a simular um glaciar e a quebrar falsos blocos de gelo. Estas montagens vêm já do filme «The day after tomorrow» e foram aproveitadas pelo ficcionista Al Gore na versão filmada do livro “An Inconvenient Truth”.

No programa não faltou Al Gore a perorar como um missionário das seitas americanas. FDS, embora achasse aqui e ali um certo exagero da parte do ex-vice presidente americano, mostrava um sorriso deliciado e não deixou de manifestar uma elevada consideração por Al Gore, perante quem revelou grande indulgência. Não surpreende. As ficções de Al Gore, tal como as de FDS, têm o objectivo de alarmar a opinião pública, alertando-a para acontecimentos que só existem na sua fértil imaginação.

Diga-se, de passagem, que FDS é um Físico nuclear, que apostou na modelação climática, mas o que afirma sobre a culpa do Homem no “aquecimento global” é mais baseado na fé do que no conhecimento. Os modeladores climáticos – e FDS está na franja dos verdadeiros profissionais desta escola de pensamento – têm fé em que conhecem o mecanismo que controla o sistema climático.

Têm fé, sobretudo, em que as representações matemáticas que eles fazem dos processos climáticos serão capazes de levar os modelos a aproximar-se da realidade. Mas a realidade escapa-se-lhes logo a partir da errónea representação da circulação geral da atmosfera, que é o fenómeno determinante na dinâmica do tempo e do clima.

Este ultrajante programa televisivo da RTP2 terminou com a projecção de uma curta peça com uma paródia de comediantes a cantar um tema alusivo ao filme “Quanto mais quente melhor”, de Marylin Monroe.

Desta forma, Al Gore e Filipe Duarte Santos foram equiparados aos comediantes que representaram a farsa dedicada a Marylin Monroe. Ao fim e ao cabo todos eles vendem um qualquer tipo de ilusões.

Falta dizer que também foi convidada para esta sessão de magia a socióloga Luisa Schmidt que não disse nada. Só falou. Entre trocas de sorrisos, elogiou “o” Filipe (Duarte Santos) e “o” Viriato (Soromenho Marques) seus amigos da Comissão Nacional para as Alterações Climáticas.

domingo, junho 08, 2008

Maio frio

Desde que os satélites meteorológicos observam as temperaturas troposféricas – as únicas que neste momento merecem crédito no meio académico e científico – o mês de Maio de 2008 encontra-se entre os Maios mais frios.

Foi a partir de 1979 que começaram as medições, através dos radiómetros instalados nos satélites, das temperaturas da baixa troposfera – até aproximadamente 4000 metros de altitude, pouco mais do que a espessura média de uma anticiclone móvel polar.

Em Maio de 2008 observaram-se as seguintes anomalias negativas: - 0,18 ºC global, - 0,05 ºC no Hemisfério Norte, - 0,31 ºC no Hemisfério Sul e – 0,58 ºC na zona intertropical (20 ºN – 20 ºS).

Este resultado segue-se a meses igualmente frios de Março e Abril do corrente ano. A Fig. 114 elucida as descidas das temperaturas em 2008. É evidente que não representam uma tendência, mas que faz frio por esse Mundo fora não há dúvidas.

Que o digam os sul-americanos. Já começou a nevar na Argentina até ao Trópico de Capricórnio (prova do inadequado esquema tricelular para explicação da circulação geral da atmosfera).

Os brasileiros também se começam a habituar a temperaturas incomuns. É o que regista Eugénio Hackbart na nota “Junho começa frio e com perspectiva de instabilidade” no seu excelente blogue de meteorologia Direto da Metsul.

Fontes: University of Alabama Huntsville (UAH), Watts Up With That?, CO2.

Fig. 114 - Maio 2008. Fonte: Antón U. Cantolla.


Estre gráfico revela que, cortando o ruído dos acontecimentos vulcânicos e do El Niño, a temperatura média global da troposfera se mantém praticamente estável (entre - 0,2 ºC e + 0,4 ºC) desde que os satélites meteorológicos entraram em funcionamenteo, em 1979.
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quinta-feira, junho 05, 2008

O G8 e as emissões

Os países do G-8 (Estados Unidos, Canadá, Grã-Bretanha, Alemanha, França, Itália, Japão e Rússia) tomaram recentemente uma decisão acerca das respectivas emissões de gases com efeito de estufa, sobretudo o CO2. Em suma, comprometeram-se a atingir, em 2050, uma redução de 50 % em relação aos valores que se verificaram em 1990, que é o ano de referência, ou de contagem inicial do Protocolo de Quioto.

Em ocasiões anteriores, as metas de redução previstas chegaram a considerar valores entre 25 % e 40 %, a concretizar já em 2020. E, para 2050, chegou a falar-se no objectivo de redução de 80 %.

Todas estas metas são fantasiosas. Os ambientalistas, que apontaram tais valores, não conseguem apresentar uma alternativa credível de formas de energia de substituição para a queima de combustíveis fósseis capazes de produzir uma redução tão radical.

A recente decisão do G-8 significa uma descida à realidade e, ao fim e ao cabo, uma derrota do irrealista Protocolo de Quioto. Por isso, os media ou ignoraram ou esconderam a notícia de forma a manter a ilusão de que o Protocolo de Quioto está vivo.

Uma honrosa excepção foi a revista semanal Sábado que, na sua edição 213, de 29 de Maio, pág. 35, na rubrica “Explique lá melhor”, publicou uma mini-entrevista com Francisco Ferreira, da Quercus, sobre o assunto.

Este ideólogo ambientalista não poderia ter-se explicado pior. Na resposta às perguntas da Sábado, Francisco Ferreira responde sistematicamente com o fanatismo climático que é habitual neste e noutros gurus da comunicação social portuguesa. As suas respostas são directamente proporcionais à sua profunda ignorância nesta matéria.

Diz o profeta do alarmismo :

Além disso [os países do G-8] não chegaram a acordo sobre as emissões até 2020. E esse compromisso era fundamental, porque ninguém sabe como será o planeta em 2050”.

Afinal não tem tantas certezas como as que costuma apregoar. Mas continua :

Teremos um aumento de temperatura de dois graus em relação à Era pré-industrial (já aumentámos 0,8 ºC), que originará alterações climáticas. Prevê-se o degelo da Gronelândia e do Pólo Sul, o aumento do nível do mar de quatro a seis metros. Haverá maior número de eventos meteorológicos extremos, como tufões, ciclones e precipitação elevada em curto espaço de tempo.

Quando se trata de alarmar, já há certezas. Mas nem o Al Gore foi tão arrojado a prever uma subida tão pronunciada do nível do mar!

Na última pergunta, o jornalista confronta Francisco Ferreira com o facto de Claude Allègre, ministro da Ciência francês, e o climatologista Timothy Ball terem dito que o aquecimento global não depende da acção do Homem.

O nosso homem não se intimida e responde que se conta pelos dedos de uma mão o número de cientistas que defendem isso, mas que existem milhares de estudos que comprovam o contrário.

De facto, a irracionalidade científica apenas produz crenças e as crenças corrompem a interpretação dos factos.

Na verdade, não existe um único estudo que comprove tal acusação contra o Homem. E por muito que custe acusar de mentiroso um senhor professor universitário, a resposta de Francisco Ferreira tem de ser interpretada como deliberadamente fraudulenta.

Com efeito, é impossível que Francisco Ferreira desconheça a carta aberta, assinada por 100 cientistas, enviada ao Secretário Geral das Nações Unidas, em 13 de Dezembro de 2007, por ocasião da Conferência de Bali sobre o Clima, na qual, entre outras asserções, esses cientistas manifestam a convicção de que as alterações climáticas constituem um fenómeno natural, que não depende da acção do Homem.

Convenientemente, a Quercus e Francisco Ferreira ignoraram tal carta. Criticavelmente, a comunicação social portuguesa, aparentemente dependente da informação filtrada pela Quercus e pelos seus dirigentes, também ignorou um documento a que deveria ter dado um amplo destaque.

Termina com a sua convicção: “A única incerteza é o que vai acontecer e quando”.

Saberá este iluminado explicar por que razão o aquecimento global fez uma pausa há já quase vinte anos? Ou por que o Antárctico arrefeceu desde há vinte anos? E o Árctico central arrefeceu também desde essa data? E a Gronelândia central tem vindo a arrefecer no mesmo período?

terça-feira, junho 03, 2008

UMA OPINIÃO DESVANECEDORA

A propósito da publicação em português de "A Ficção Científica de Al Gore", recebemos do Sr. Prof. Doutor José Delgado Domingos, do Instituto Superior Técnico, uma notável manifestação de apreço pelo seu conteúdo. Transcrevemo-la sem comentários:

Caríssimo Rui Moura
Agradeço-lhe sinceramente a oferta de «A Ficção Científica de Al Gore», por duas razões: A primeira pelo livro em si que desconhecia e foi uma revelação; A segunda , como cidadão pelo importantíssimo contributo que deu, com a sua tradução e o pertinente prefácio e notas, para a discussão séria e aprofundada deste tema entre os que falam português e correm o sério risco de ceder à tentação de deixar de pensar a troco das ilusões e das miragens prometidas por pseudo certezas científicas e revoluções tecnológicas.

Devo acrescentar que irei recomendar vivamente este livro aos alunos de doutoramento no IST nas aulas que lhes vou dar, para não referir já todos os conhecidos e amigos que vou encontrando e se interessam por estes temas.
Mais uma vez um muito grande obrigado e um forte abraço do

José Delgado Domingos

O Prof. Delgado Domingos informou ainda, posteriormente, que vai recomendar o livro aos seus alunos de doutoramento do Massachussets Institute of Technology/IST.

Por imperativo de justiça o co-tradutor Jorge Pacheco de Oliveira tem de ser associado a este acontecimento.