quarta-feira, maio 05, 2010

Inverno 2009-2010 (1)

[Tradução de parte da análise de Jean Martin]

Neve, gelo, tempestades: a realidade objectiva perante afirmações peremptórias…

Como se sabe, uma grande parte do Hemisfério Norte conheceu um Inverno particularmente rude, pelas suas temperaturas, pela sua duração e pela altura da neve acumulada nos solos.

Do mesmo modo, o Norte da Europa e, muito particularmente, a França conheceram tempestades assinaláveis. Os pseudo-climatologistas que afirmam sem cessar que a climatologia não é a meteorologia dizem que as vagas de frio não querem dizer nada.

Mas mesmo assim, devem ter tirado uma série de ensinamentos. Segundo eles, as vagas de frio demonstram a gravidade e a urgência do que chamam agora “a desordem climática” ou, melhor ainda, “o caos climático”.

Analisemos [seguem-se 4 pontos destacados da extensa análise feita por Jean Martin, que MC vai separar em vários posts extraindo o fundamental]:


1) Alguns afirmaram que este Inverno bastante fresco foi um indicador evidente da desaceleração do Gulf Stream, prevista pelos modelos – acrescentam eles. Demonstram assim uma quádrupla ignorância:

- Por um lado, as observações mais recentes efectuadas com auxílio dos dispositivos ARGO, publicadas em Fevereiro deste ano, mostram que o Gulf Stream não acelerou nem retardou.

Na realidade, o Gulf Stream comportou-se tão bem como a totalidade da Circulação Meridional Atlântica [ou Atlantic Meridional Overturning Circulation da qual faz parte o Gulf Stream].

- Por outro lado, foi uma grande parte do Hemisfério Norte que esteve sujeita a um Inverno particularmente rude. Estas vagas de frio repetiram-se como não se tinha registado há muito tempo.

As vagas de frio afectaram uma vasta porção do Hemisfério Norte indo do Norte da China a uma grande parcela dos Estados Unidos da América, passando pela Rússia e pelo Norte da Europa, embora com anomalias positivas como no Este do Canadá (Vancouver) e no Norte de África.

Deste modo, a Rússia parece ter conhecido o seu Inverno mais duro desde que existem registos. Enquanto isso, no Norte da China, na Europa e no Centro e no Sul dos EUA aconteceu o Inverno mais frio desde os anos 1970 ou mesmo desde o início dos anos 60.

- Não se percebe como é que o Gulf Stream que contorna as costas do Norte da Europa poderia influenciar o clima chinês… Além disso, o exame atento da Oscilação Árctica deste Inverno mostra uma correlação muito nítida entre as vagas de frio e as suas fases negativas.

Esta oscilação (AO ou NAO) é perfeitamente natural e bem conhecida dos meteorologistas. É um fenómeno perfeitamente identificado. Não existe nenhuma dúvida sobre o facto de que uma inversão do diferencial de pressões entre os Açores e o Norte da Islândia está ligada a vagas de frio como as que nos afectaram este Inverno.

- Por último, contrariamente à crença largamente difundida, não está cientificamente provado que o Gulf Stream tenha influência importante no clima do Norte da Europa. As discussões entre especialistas sobre o tema continuam em curso.

(continua)