quarta-feira, maio 12, 2010

Inverno 2009-2010 (3)

[Tradução de parte da análise de Jean Martin]

(continuação)

3) O aumento da violência e da frequência das tempestades que se têm verificado, nomeadamente em França, seriam também, segundo alguns, a manifestação evidente do aquecimento global (subentendido “antropogénico”).

Citem-se Klaus e Xinthia como provas… Para ser justo, deve-se reconhecer que o AR4 [Quarto relatório de avaliação do IPCC] de 2007 (Resumo Técnico) está bem documentado a este propósito. E com razão.

Como já disse anteriormente, e contrariamente à leitura precedente, convém ser muito prudente com este género de afirmações. Se a memória humana é bastante curta, as observações (medições), elas, perduram…

Para recolocar as coisas num contexto histórico, recomendo a leitura do livro de Emmanuel Garnier, Les Dérangements du Temps : 500 ans de chaud et de froid en Europe, que mostra quantas muito graves intempéries (tempestades, inundações, etc.) afectaram frequentemente o nosso clima, e muito antes da era do petróleo.

Ou seja, segundo aqueles, resumidamente, “clima mais quente = tempestades mais frequentes e mais severas”. Será isto bem verdade? Nós somos como S. Tomás. Faltam-nos provas, medidas, artigos científicos, para nos fazer crer.

Então, vamos verificar se “clima mais quente = mais tempestades”, baseando-nos em artigos científicos publicados recentemente na literatura revista pelos pares. Estes artigos respeitam mais especificamente aos europeus visto que são as nossas tempestades que foram tomadas como exemplo.

[Segue-se a recensão de dois artigos. A do segundo será publicada no post seguinte.]
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O primeiro destes artigos foi publicado online no dia 23 de Fevereiro de 2008 no Quaternary International 195 (2009) 31-41. Intitula-se The impact of North Atlantic storminess on western European coasts:A review.

Trata-se de um artigo do género de compilação e recolha da literatura científica publicada sobre um tema específico. Os autores são Michèle L. Clarke et Helen M. Rendell. Os autores introduzem o seu trabalho da seguinte maneira:

A compreensão do comportamento da actividade tempestuosa do passado é particularmente importante no contexto da futura alteração climática antropogénica com as predições de um aumento da frequência das tempestades e da subida do nível dos mares no final deste século.

Como sempre, o resumo diz-nos tudo. Ei-lo no original:

Abstract
Instrumental and documentary records of storminess along the Atlantic coast of western Europe show that storm activity exhibits strong spatial and temporal variability at annual and decadal scales.

There is evidence of periods of increased storminess during the Little Ice Age (LIA) (AD 1570–1990), and archival records show that these periods are also associated with sand movement in coastal areas.

Independent evidence of sand movement during the LIA is derived from dating the coastal sand deposits, using luminescence or radiocarbon methods.

The Holocene record of sand drift in western Europe includes episodes corresponding to periods of Northern Hemisphere cooling, particularly at 8.2 ka, and provides the additional evidence that these periods, like the LIA, were also stormy.

A Fig. JM3 representa a carta apresentada com este artigo. Ela indica em traços negros espessos as zonas que foram estudadas pelos 16 artigos científicos indicados como referências. Verifica-se que as zonas costeiras essenciais estão implicadas nesta análise.

Note-se, de passagem, a astúcia (e a paciência) dos investigadores que estudaram meticulosamente o deslocamento da areia das dunas costeiras. É um proxy (um indicador) interessante. De facto, as dunas de areia das nossas costas têm efectivamente conservado a memória das tempestades do passado, até épocas muito recuadas.

As conclusões deste artigo de revista são muito claras:

Os períodos frios têm coincidido com a ocorrência de uma forte actividade tempestuosa. A Pequena Idade do Gelo teria mesmo conhecido um aumento das tempestades. Isto é, as observações mostram exactamente o contrário das afirmações que se ouvem e se lêem por todo o lado…

Isto não é novidade.

[Convida-se os leitores a rever o longínquo post de 2006 Aproxima-se o frio. Pergunta-se: Com que se parece o actual estado do tempo?]

(continua)